O dengue constitui um problema de Saúde Pública a nível global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no conjunto dos cinco continentes, há cerca de 3.9 mil milhões de pessoas expostas ao risco de infeção, em consequência da ampla dispersão geográfica do vetor e da prevalência da circulação do vírus.
Os vetores são culicídios do género Aedes, nomeadamente A. aegypti e A. albopictus. Já os agentes patogénicos são flavivírus. Há quatro tipos de vírus dengue que induzem imunidade após infeção. Saliente-se que não existe imunidade cruzada de longa duração. O risco de desenvolver formas graves da doença, nomeadamente dengue hemorrágico, aumenta com o número de infeções, por circulação sanguínea de anticorpos heterotípicos.
O período de incubação varia entre 3 a 10 dias e as manifestações clínicas, quando ocorrem, têm a duração de 2 a 7 dias, sendo frequentemente inespecíficas: febre de início súbito, dores musculares e articulares, cefaleias (nomeadamente dor retro ocular que pode despertar a suspeição clínica), náuseas, vómitos e exantema. No entanto, a infeção pode evoluir para formas graves. O tratamento é essencialmente de suporte, havendo medicamentos comuns que estão contraindicados, como o ácido acetilsalicílico e o ibuprofeno devido ao aumento de risco hemorrágico.
O risco de infeção está relacionado com a presença do vetor e com a circulação do vírus. Sublinhe-se que ambas as espécies do vetor estão presentes em Portugal: o Aedes aegypti estabelecido na ilha da Madeira e o Aedes albopictus no Continente.
Portanto, está presente o vetor competente para a transmissão da doença, mas não há atualmente casos autóctones, desde o surto de 2012 na ilha da Madeira. Porém foram já confirmados casos importados em viajantes provenientes do Brasil, que representam risco para a introdução da infeção.
Atendendo à elevada magnitude da epidemia do Brasil e às frequentes ligações aéreas com Portugal, considera-se oportuno reforçar os mecanismos de vigilância epidemiológica e entomológica.
As pessoas que pretendam visitar o Brasil devem, por isso, ser aconselhadas a utilizar medidas de proteção individual, sobretudo contra picadas de mosquito.
Recentemente foram comercializadas duas vacinas: a Dengvaxia® (primeira vacina aprovada contra o dengue) e a Qdenga®. A primeira, é indicada apenas para residentes em zonas endémicas, com idades entre 9 e 45 anos, mas requer evidência de infeção prévia confirmada para elegibilidade vacinal. A segunda, foi aprovada em 2022 e permite uma utilização mais ampla, estando indicada para crianças a partir dos 4 anos e adultos até aos 60 anos. Esta vacina assume potencial revolucionário na prevenção da infeção, estando recomendada pela OMS para crianças e jovens em locais “hotspots” de dengue. É atualmente usada no Brasil no quadro da estratégia vacinal faseada por categorias de risco geográfico e por grupo populacional.
Carolina Torres (Fevereiro, 2024)