Um congresso para debater a saúde pública numa perspetiva científica – Uma conversa com Francisco George

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Um congresso para debater a saúde pública numa perspetiva científica – Uma conversa com Francisco George

Francisco George nasceu em Lisboa, em 1947. Médico pela Faculdade de Medicina de Lisboa (1973). Especialista em Saúde Pública. Funcionário da Organização Mundial da Saúde entre 1980 e 1991. Foi nomeado Subdiretor-Geral da Saúde em 2001 e Diretor-Geral da Saúde entre 2005 e 2017. Foi professor associado convidado da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Foi Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa entre 2017 e 2021. Eleito, em 2022, Presidente da Direção da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública. É autor ou coautor de diversos artigos científicos, ensaios e publicações. Em 2006, recebeu a Ordem do Infante Dom Henrique, Grande Oficial e, em 2017, a Grã-Cruz da Ordem do Mérito, entre outras distinções

Quais são os principais objetivos deste primeiro congresso de saúde pública?

Debater as questões associadas à saúde dos portugueses numa perspetiva iminentemente científica, na base da comprovação científica da argumentação e das conclusões.

Quais são os temas que destacaria nestes dois dias de trabalho?

Antes de mais nada, a importância da reunião que junta muitas centenas de participantes de profissões e especialidades todas elas convergentes, incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, técnicos de saúde ambiental, engenheiros, economistas. Todos aqueles que se interessam pela promoção da saúde dos portugueses estão aqui juntos para darem contributos, não só no olhar para trás, na análise daquilo que tem sido feito, mas também no olhar para diante, na perspetiva da inovação e da antecipação dos problemas que temos de enfrentar.

A nível dos palestrantes, gostaria de destacar alguém?

Todos os palestrantes foram selecionados cuidadosamente e vão dar contributos importantes. Mesmo na área das políticas públicas, os palestrantes convidados não têm responsabilidades políticas a nível do Estado, mas tiveram. Caso de Paulo Macedo e de Marta Temido, que foram ministros da Saúde, Raquel Duarte que foi secretária de Estado da Saúde.- São, portanto, antigos governantes que implementaram políticas públicas e agora vão ser convidados a olhar para trás, a perceber se aquilo que fizeram foi ou não, com a leitura de hoje, correto e, naturalmente, tirar as devidas lições. Há uma grande expetativa igualmente em relação à abertura por Constantino Sakellarides e da presidente da Associação Europeia de Saúde Pública, a EUPHA, que se desloca a Portugal exclusivamente para este fim, o que dá um sina de maior visibilidade ao Congresso e à saúde pública portuguesa. Há o cuidado de juntar à mesa especialistas de origens diversas, incluindo veterinários, uma vez que uma das preocupações centrais de hoje tem a ver com aquelo a que se chama “uma só saúde”, chamando a atenção para a importância das interações entre a saúde humana, a saúde animal e o ambiente.

Quais são os desafios principais com que se confronta a saúde pública nos dias que correm?

Um dos principais desafios é a questão da pobreza, que muito preocupante em Portugal. Há cada vez mais uma desigualdade, e mesmo iniquidade entre ricos e pobres, com reflexos claros não só no acesso à saúde, mas também no próprio estado de saúde. Há aqui problemas graves que têm de ser resolvidos. Ou outros, menos falados, como seja a resistência das bactérias aos antibióticos que se prolonga e cada vez é mais graves. E ainda a questão ligada às alterações climáticas e os seus efeitos em saúde pública.

Os desafios com que Portugal se defronta estão em linha com os desafios europeus?

Em parte. No que toca à pobreza, a questão é muito portuguesa porque muitos países europeus libertaram-se deste fenómeno, desenvolveram políticas com discriminação positiva dos mais vulneráveis e em Portugal o problema da pobreza e da grande desigualdade no acesso á saúde persistem.

As conclusões deste congresso, a que se destinam?

A principal preocupação é a produção científica. Depois, os governantes inteligentes serão guiados pelas conclusões extraídas com base científica.

Neste congresso vai ser atribuído, pela primeira vez, o Prémio Ribeiro Sanches. O que se pretende distinguir com este prémio?

Ribeiro Sanches é ainda uma figura pouco conhecida em Portugal. O seu legado ainda não está suficientemente incorporado na sociedade portuguesa. Trata-se de uma figura ímpar, que nasceu em 1699 em Penamacor. Em 1726 já como médico e a exercer em Benavente, fugiu à Inquisição, uma vez que descendia de cristãos novos. Percorreu os principais centros médicos na Europa, foi indicado como médico da corte russa, tratou a família real e mesmo a czarina, foi distinguido. A partir de 1747 estabeleceu-se em Paris, onde colaborou com todos os pensadores mais importantes do iluminismo: Diderot, d’Alembert, Rousseau e todos eles. Colaborou com a Enciclopédia, escreveu muito, incluindo Tratado da Conservação da Saúde dos Povos, que é um exemplo de clareza sobre problemas da saúde pública que ainda hoje são abordados, uma vez que, além da medicina, inclui os aspetos ligados à saúde ambiental, à agua para consumo humano, à eliminação dos esgotos. É uma obra muito útil no sentido da sua indicação para os médicos, as autoridades e os pais de família, como indica no subtítulo. Há ali uma perspetiva de promoção da literacia dedicada aos pais de família, o que é muito importante.
O prémio distingue a melhor comunicação apresentada ao congresso. Trata-se de um prémio pecuniário, financiado pela Câmara Municipal de Penamacor, terra de Ribeiro Sanches, e pela Caixa Geral da Depósitos.

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