O futuro, para proteger a saúde das novas gerações, impõe, antes de mais, o desenvolvimento interdisciplinar da Saúde Pública, quer ao nível do Estado quer de outros sectores, incluindo a sociedade civil. Pressupõe uma agenda ambiciosa, fundamentada em novos conhecimentos científicos e tecnologias inovadoras, que assentam nos progressos alcançados ou admitidos como alcançáveis.
Foi neste contexto que a Sociedade Portuguesa de Saúde Pública promoveu o debate desta agenda em Congresso. Para o efeito, estabeleceu parcerias com associações afins, designadamente a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e a Associação Portuguesa para Promoção da Saúde Pública. Os quase 900 congressistas inscritos juntaram-se nas instalações da Culturgest nos dias 15 e 16 de Junho de 2023. A participação foi importante, mas o espaço aberto a intervenções em plenário terá sido manifestamente curto, devido à preocupação dos organizadores pelo cumprimento dos horários.
Constituíram temas das mesas assuntos tão diversos como a resistência aos antimicrobianos, as pandemias, políticas públicas de saúde, zoonoses, One Health, literacia e a inteligência artificial.
Sobre este último item, ficou bem claro que a aplicação de Inteligência Artificial para o benefício do bem-comum e da Saúde Pública, em particular, exige, ainda, a consideração de fatores específicos da saúde e a observação de princípios de ética como a não-discriminação, centralidade no cidadão e corresponsabilidade. A este propósito apontou-se que a antecipação de riscos associados a decisões apoiadas por sistemas com diferentes tipos de autonomia só pode ser conseguida com laboratórios reais para demonstração de valor quanto à sua robustez técnica, mas, também, adequação social. No entanto, julgou-se apropriado criar um ecossistema para incorporar a Inteligência Artificial no Serviço Nacional de Saúde.
No que se refere ao Ambiente, enumeraram-se múltiplos erros antropogénicos como os cometidos no passado recente, a partir de 1850, que não poderão voltar a acontecer, nomeadamente: as indústrias poluentes que estão na origem do aquecimento global ou a produção descontrolada de poluentes químicos, ou, ainda, a urbanização sem regras, mas também os conflitos devastadores como a I Guerra Mundial de 1914–1918, a Guerra Civil de Espanha 1936–1939, a II Mundial 1939–1945 (com duas bombas atómicas), Coreia, Israel, Palestina, Vietname, África, Balcãs, Iraque, Síria, Líbia, Afeganistão ou Rússia-Ucrânia…
À semelhança dos gases poluentes que fazem efeito em todo o planeta, também um foco de doença transmissível ocorrido em aldeia remota de qualquer país, pode assumir pouco tempo depois característica pandémica (a título de exemplo repare-se na propagação descontrolada do Ébola em 2014).
Para assegurar o futuro é agora que interessa fazer certo. As políticas, como as medidas tomadas por cada sector, devem, previamente, equacionar a eventualidade de serem geradoras de riscos para o futuro, mesmo que beneficiem o presente.
Só assim as crianças que irão nascer em 2023 e 2024 poderão ter uma vida mais prolongada e com mais qualidade.
Nesta perspectiva, acordou-se em convocar futuros debates e, concretamente, o próximo Congresso em 2025, contando com a participação na organização da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e da Associação Portuguesa para Promoção da Saúde Pública.